A praia é o quadro cénico que mais seduz o meu olhar. Prefiro as cidades, vilas ou aldeias à beira-mar. Abraçadas pelo mar como se dele fossem parte. Este, molda-as à sua maneira, envolve-as na sua aura infinita. A praia é a linha que as separa. O último reduto. Nela o mar espelha o seu íntimo. Ela é a sua maior confidente. É na praia que o mar se revela em todo o seu esplendor.
Não existem praias feias. Todas têm o encanto que o mar lhes dá. Sejam de areia ou de pedra, grandes ou pequenas, desertas ou na cidade, a praia é sempre um pedaço mágico de terra.
Este fascínio por praias enquanto cenário paisagístico tem por base a relação umbilical que mantenho com a “minha praia”. “A mais bela praia da terra portuguesa”. Foi esta a frase, da autoria de Raul Brandão, que eu orgulhosamente repeti inúmeras vezes ao longo da minha vida. “A minha praia” chama-se Baleal. Um punhado de terra que, por ousadia ou capricho, se deslocou da grande massa continental para, orgulhosamente só, poder estar mais próximo do mar. A linha que separa este irredutível pedaço de terra do resto (e repare-se no desdém que coloco nesta palavra), é uma praia de areia fina e horizonte imenso. Este foi o palco dos mais gloriosos momentos da minha infância.
Nesta “ilha”, que na realidade, não se trata de uma ilha na verdadeira acepção do termo, pois não possui características na sua configuração para ser considerada como tal, já verti, literalmente, sangue, suor e lágrimas. E soltei gargalhadas mil. Percorri e senti cada pedaço daquela terra. Todos eles têm o seu espaço na minha memória, como pano de fundo de uma qualquer doce recordação. A expressão “minha praia” enquanto representação daquilo com que nos identificamos e que realmente gostamos, aplica-se na perfeição ao significado que eu atribuo à ilha do Baleal. Mais do que a minha praia, o Baleal é o meu refúgio, o meu templo, a minha terra. Porque a nossa terra é o nosso coração que escolhe. Não se trata de renegar origens. Nasci e vivi a maior parte dos meus dias em Torres Vedras, cidade que me deu amigos e Carnaval. É a minha cidade. Mas a minha terra é algo que apenas os sentidos entendem realmente. O seu cheiro, textura e a sua alma são como que uma extensão do meu eu. Por mais viagens que tenha feito, por mais sítios que venha a conhecer, o regresso é sempre feliz quando me sinto envolvido pelo abraço fraterno da minha “ilha”.
quinta-feira, 24 de novembro de 2011
quinta-feira, 30 de junho de 2011
A Insaciável Leveza do Ser
"De todos os animais da Criação, o homem é o único que bebe sem ter sede, come sem ter fome e fala sem ter nada que dizer."
John Steinbeck
Somos uma espécie curiosa.
A força criadora que congeminou a nossa existência terá, inevitavelmente, que ser entendida de uma de duas formas: como um capricho prodigioso de artista incompreendido ou como erro monumental que corrompe toda a obra final. De outra forma não faz sentido a nossa presença neste lugar perfeito, onde o único elemento que não alcança a perfeição somos nós. O capricho da criação emerge como explicação plausível para a nossa existência pois nenhuma obra-prima deve ficar sem ser vista . E entendida. Somos espectadores inquietos e curiosos da perfeição materializada neste planeta mágico. Numa perspectiva alternativa, o capricho pode também ser entendido como perversa criação para regozijo universal sobre esta bizarra criatura que é o homem. Eu creio que a segunda opção apresentada para justificar a nossa presença neste planeta é a mais válida. Um erro. Um erro colossal que serve apenas para provar que nada é perfeito. Somos a prova viva dessa tese.
A citação de John Steinbeck sintetiza de forma brilhante o absurdo da nossa existência. Uma criatura insaciável que devora grotescamente a harmonia e a perfeição. Nada nos satisfaz. A derradeira vítima da nossa voracidade é o silêncio. Preenchemo-lo de forma inútil e violenta. Violamos o silêncio impunemente. Não conseguimos compreender que nele se concentra toda a sabedoria.
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